Águas de Oxalá

O ciclo anual das cerimônias, que envolvem os rituais de origem africanista, encontra nas Águas de Oxalá fator máximo de importância por dois motivos: inicia as atividades religiosas e prepara essas atividades através da purificação.

É preciso observar inicialmente que o ano religioso africano não se identifica com o nosso ano legal. Não vai de 1º de janeiro a 31 de dezembro. Ele é baseado tomando como ponto de referência as estações climáticas: primavera, verão, outono e inverno, que determinam as datas das cerimônias.

Por obra do sincretismo religioso, as datas festivas dos santos católicos passaram a servir como referência. Isto em alguns Candomblés, porque nos mais tradicionais, as Águas de Oxalá é feita em época próxima a entrada da primavera.

Esse ritual de purificação, renovação, pode ser considerado um “rito de passagem”, o fim e o começo, um novo ciclo, reverencia a presença da água, fonte primordial da vida, que se apresenta em todos os rituais da Religião dos Orixás.

Este ritual divide-se em 03 (três) partes distintas: Águas de Oxalá, Procissão de Oxalufan e o Pilão de Oxaguian O ciclo se realiza ao se reviverem durante os 16 dias o caminho mitológico do Orixá.

Oxalá representa a pureza, Obatalá, O rei do Imaculado ou O rei do Branco, não existirá outra cor durante os 16 dias na liturgia das Águas se não, o “Branco,” dentro do terreiro e a todos que lá chegarem, a retidão e o silêncio tomarão conta do Axé, tudo deverá estar limpo, a preocupação com as roupas que deverão estar alvas, engomadas e perfeitas. Do portão de entrada do terreiro até a porta do barracão e demais dependências, será estendido sobre nossas cabeças uma peça ou mais de morim branco, cobrindo como um teto os Orís de todos. Na maioria das casas, o ritual começa na madrugada da sexta-feira com a confecção do baluwê (pequena cabana feita com bambús e de folhagens de coqueiros, pitombas, etc) o assentamento do Oxalá mais velho será posicionado sobre uma enorme bacia, outros assentamentos de Oxalá podem ficar ao lado acompanhando o velho Orixá, permanecerão até o 2º domingo das águas quando então Oxalufan volta para sua casa. Começará então a procissão de ir no rio ou na fonte pegar água fresca, cada um com seu pote, jarro ou quartinha sobre seus Orís para depois levarem até a cabana de Oxalá e lá a Iyalorixá ou Babalorixá estará esperando todos e em ordem hierárquica, receberá as quartinhas com água e lavará o Orí de cada um, colocando um Obí no Orí cobrindo-o com um ojá. Esse ritual é feito em todos que se encontrarem na casa, abians, iniciados e visitantes, sem exceção, o Orí se renova. Retorna-se ao rio ou fonte mais algumas vezes dando seguimento ao osé de Oxalá.

Obs: Como o que acontece com praticamente tudo no candomblé, é possível observar particularidades deste ritual de casa para casa, como: a adaptação à forma de coleta de água, em terreiros cuja a localização impossibilita a realização do ritual junto à um rio; O bori à todos os participantes do orô, substituído por obí; A realização deste ritual de forma compacta e/ou sintetizada, com a redução dos dias de preceito.

Porém, acredito que, com a ritualística no mesmo formato, com coerência e fé nos corações dos praticantes, os Orixás entendem e aceitam os improvisos e adaptações que acompanham a realidade dos dias atuais.

 

Um Itan narra todo o caminho seguido no ritual: Águas de Oxalá. Vejamos a seguir:

Oxalufan devia ir na terra de Oyó visitar seu filho Xangô. Antes, porém, consultou primeiramente Ifá para saber se tudo correria bem durante a viagem. Odú saiu Ejionilé. Mesmo assim, Oxalufan insistiu em ir. Devido a isto foi aconselhado a não negar nada a ninguém que lhe pedisse algo e mais ainda que levasse consigo sabão da costa, obi e três roupas brancas.

Seguindo caminho, encontrou por 03 (três) vezes Exu: Exu Elepo, Exu Idu e Exu Adiram; que lhe pediu sucessivamente para ajudá-lo a carregar na cabeça uma barrica de azeite de dendê, uma carga de carvão e outra de óleo de amêndoas ou xoxo. As três vezes, Exu derramou o conteúdo sobre Oxalufan. Mas este sem se queixar, lavou-se e trocou as três mudas de roupas e continuou a viagem.

Oxalufan havia dado de presente a Xangô um cavalo branco, o qual havia desaparecido do reinado fazia bastante tempo. Os escravos de Xangô andavam por toda parte para encontrá-lo e eis que Ele passando por um mineral, apanhou algumas espigas de milho e ao mesmo tempo deparou-se com o cavalo perdido de Xangô. O cavalo também o reconheceu, acompanhando-o. Nesse instante, chegaram os escravos de Xangô, gritando: Olé Esim Oba, que quer dizer”ladrão do cavalo do rei”.

Não o reconhecendo, deram-lhe vários golpes e em seguida jogaram-no na prisão. Este, permaneceu 07 (sete) anos preso. Enquanto isso no Reino de Xangô tudo corria mal. Xangô preocupado consultou um Babalawo. Este revelou o motivo daquilo tudo. Disse o Babalawo a Xangô: “Algum inocente paga injustamente em tuas prisões”. Xangô, então, ordenou que os prisioneiros comparecessem diante dele, reconhecendo ali seu pai. Enviou então os escravos vestidos de branco até uma fonte vizinha para lava-lo, sem falar uma palavra, em sinal de tristeza. Depois, Xangô, em sinal de humildade, carregou-o nas costas de volta até o Palácio de Oxaguian. Oxaguian, muito alegre com o regresso de Oxalufan, ofereceu um grande banquete.

 

(Blogs: O Candomblé e Olhos de Oxalá; Adaptação e considerações Contos de Logunce)