Olubajé

Olubajé é a festa anual em homenagem a Obaluaê/Omulu.
Olugbajé é uma palavra de origem Iorubana e significa: Olu (aquele que), Gba (aceita) Je (comer).
Normalmente é realizado no mês de agosto, nas casas de candomblé.
Esta cerimônia de caráter público, tem como objetivo propiciar a saúde, no sentido de prolongar a vida e trazer equilíbrio a todos os presentes. Nos dizeres de MLL Teixeira (A encruzilhada do ser -1994), Olubajé é um “grande ebó coletivo”. Todos, iniciados ou não, podem usufruir deste benefício, desde que, nos dizeres do povo de santo, estejam com “o coração limpo”.
Diz um Itan, que Xangô, um Rei muito vaidoso, deu uma grande festa em seu palácio e convidou todos os Orixás, menos Obaluaê, pois as suas características de pobre e de doente assustavam o rei do trovão. No meio do grande cerimonial todos os outros Orixás começaram a notar a falta do Orixá Rei da Terra e começaram a indagar o porquê da sua ausência, até que um deles descobriu que ele não havia sido convidado.
Todos se revoltaram e abandonaram a festa, indo a casa de Obaluaê. Temendo sua cólera, resolvem ir até seu palácio levando suas próprias comidas, como sinal de desculpas. Obaluaê recusava-se a perdoar aquela ofensa, até que chegou a um acordo: uma vez por ano daria uma festa em que todos os Orixás seriam reverenciados e estes ofereceriam comida à todos.
Um outro Itan conta, que um dia houve uma festa no Orun e todos os orixás foram convidados, todos dançavam, porém quando Omulu foi dançar, todos o ridicularizaram, pois dançava apontado suas feridas e de maneira desengonçada. Vendo todos rirem dele, no final de sua dança, apontou para todos os orixás e sobre eles jogou uma praga e conforme os dias foram passando, todos ficaram doentes, a terra se tornou improdutiva. Foi quando os omo-orixás (filhos de Orixá), pediram para que os Orixás intercedessem à Omulu, para que tudo voltasse ao normal, e então decidiram fazer um grande banquete em homenagem a Omulu.
Este, vendo-se agradado, retirou a praga e disse que a partir daquele momento, todos os anos, deveria ser feito o Olubajé em sua homenagem, e o festejo serviria como um ebó para todos os omo-orixás.
É interessante que os Orixás que compõem a família Jê (família de Omulu/Obaluaê, recebe este nome em alusão àqueles que seriam oriundos do país do Daomé), encontram-se associados à questão da saúde/morte/vida/início/fim.
Omulu/Obaluaê, Yewá, Oxumarê e Nanã são divindades da terra. A terra, o solo, o subsolo, tudo é propriedade de Nanã e sua família.
Nanã é a grande matriarca destes orixás e de nós, seres humanos também. Os orixás da terra detêm segredos quanto a princípios de morte e de vida.
Nanã (mãe biológica de Omulu/Obaluaê), possui o domínio dos pântanos, associada à matéria da criação dos homens, o barro.
Obaluaê/Omulu, o dono da terra, senhor da vida e da morte;
Oxumarê, o senhor da mobilidade e da atividade, representado pela cobra e pelo arco-íris, por isso é considerado o senhor de tudo que é alongado, como por exemplo o cordão umbilical, o que significa a ligação entre o velho e o novo, entre os homens e seus antepassados, a continuidade;
Yewá, Deusa da fecundidade. Reverenciada como dona do mundo e dos horizontes.
O RITUAL
Em um determinado momento do Candomblé, Iansã entra no barracão à frente de Obaluaê, carregando um balaio de pipocas (doburus), que são distribuídas para as pessoas presentes. Este ritual, representaria a recriação do momento em que o orixá, ainda em África, era alvo de maus tratos por parte do povo ao passar pelas aldeias, que assustado por suas feridas e aparência, o repudiavam expulsando-o. Agora, ele, ao contrário do que recebia, generosamente repartia do seu axé para com aqueles que um dia o repudiaram. Os presentes ao receberem o punhado de doburu/pipoca, cerimoniosamente o passam pelo corpo, com o objetivo de se livrar de suas mazelas.
Após, ao som do cântico do olubajé, o Babalorixá ou Yalorixá, leva o cortejo para uma área exterior, seguido pelos filhos, que levam sobre a cabeça as comidas pertinentes a vários Orixás (axoxô, pipoca, banana da terra frita, omolucum, mostarda refogada, acarajé, acaçá, eboyá, dentre outras), que serão servidas sobre uma folha chamada “Ewe Ilará”, conhecida popularmente como mamona assassina, “altamente venenosa”, simbolizando a Morte (iku).
Uma filha de Oyá, carrega esteiras de palha.
Os últimos a surgirem são os Orixás, terminando o cortejo com o dono da festa, Obaluaê/Omulu.
As esteiras são desenroladas e estendidas, e sobre elas são arrumados, um após outro, os alguidares e potes com as comidas, formando sobre o chão, a grande mesa.
Um novo cântico, de ritmo lento, começa a ser ouvido. Ele marca o início do grande banquete do rei, que perdurará durante todo o tempo em que os convidados estiverem sendo servidos. Durante este tempo, todos os orixás presentes dançam em volta da mesa.
O ritual do Olubajé tem como objetivo principal a organização de forças múltiplas, capazes de restabelecerem o equilíbrio e o bem-estar dos adeptos. Ao se louvar o Senhor dono da terra, busca-se garantir não só a vida material e a sobrevivência através da refeição comunal, mas também, afastar a morte, a doença e o desequilíbrio, tanto material, quanto espiritual, de todos, sejam eles adeptos ou não.
(Fontes/Bibliografia: Olubajé ritual de ações terapêuticas e de comensalidades no Candomblé, Ana Cristina de Souza Mandarino Estélio Gomberg Reginaldo Daniel Flores; Wikipédia; Adaptação Contos de Logunce)

6 comentários sobre “Olubajé

    • Olá… Obrigada por participar da página Contos de Logunce!
      Há o costume de se realizar as festas de determinados Orixás em datas/meses relacionados aos respectivos Santos Católicos a qual estão associados, de acordo com o sincretismo religioso.
      Vale ressaltar que o sincretismo religioso sofre variações de região para região.

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    • Olá… Desculpa a demora em responder.
      Então, não sei se entendi exatamente a sua dúvida… Mas, vamos ver se consigo ajudar.
      Olubajé quer dizer banquete do rei, ritual esse que os orixás levam suas comidas para homenagear o rei Omulu/Obaluaê. Passa a ser um ebó, pois os presentes além de comerem a comida , passam a mesma no corpo, como uma limpeza, pedindo à Omolu por tudo que desejar, inclusive pela saúde.
      Quanto a sua pergunta, se tem que ser feito ebó após o ritual, você se refere à fazer um ebó no Terreiro?
      Sim, pois além de ser um banquete e um ebó para os visitantes, a casa também passa por esse ebó, devido a energia que se mexe na casa, ligada a esse santo e aos demais envolvidos da sua família.
      Bem, foi assim que aprendi. Não estou ditando como verdade absoluta, apenas compartilhando o meu aprendizado e forma de prática no meu Ilê.
      Espero ter conseguido responder à sua dúvida.
      Obrigada por curtir a página e participar!

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